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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Pequeno Conto de Verão

Estávamos no verão daquele ano. Parecia o verão mais quente que Deus poderia conceber. Uma menina de olhos e cabelos cor-de-mel, com mais ou menos oito anos brincava à tardinha no balanço de um parque da cidade acompanhada de uma coleguinha sua que estava no balanço ao lado e balançava-se em alta velocidade.

A criança de cabelos cor-de-mel fechou seus olhos por alguns instantes e, quando os abriu, tudo parecia diferente. O que era parque tornou-se um quarto de chácara e o que era multidão tonou-se apenas a própria criança. Ela olhou para o lado e viu que se enganara, pois não estava só naquele estranho lugar. Havia uma linda moça loira vestida de noiva e com as mãos sobre o ventre, que com os olhos cheios de lágrimas disse:

- Por favor, me ajude. Eu acabei de casar e, na noite de núpcias meu marido teve uma crise de ciúmes, disparou uma arma de fogo contra mim e depois se matou. Disse, dando um papelote com o endereço de uma chácara localizada nos arredores da cidade.

A criança viu então o sangue correr do abdômen da vítima, sujando suas mãos e fazendo uma pequena poça no chão. Então, por ter visto na televisão pessoas ajudando os outros com a respiração boca-a-boca, pôs-se a tentar do seu jeito desajeitado fazer a moça voltar à respirar. Então, tudo mudou novamente e o sangue que empoçava o chão do quarto, agora empoçava a grama. Logo ela percebeu que estava de volta ao parque aparentemente beijando sua coleguinha que tinha caído do balanço ao lado e esfolado o joelho em uma pedra que estava no gramado.

Todos olhavam para a pobre criança com olhares de afiada reprovação, dizendo:

- Tão pequena, e já pensa nessas safadezas.
- E o pior. Com outra menina!
- Isso deve ser por que ela viu na televisão.
- Isso é coisa do Demo.

A criança tentou se explicar mostrando o bilhete e de todas as formas mais que pôde pensar, mas todos insistiam em não entender, achando que ela tinha um sério problema e que devia ser tratada. Quando o assunto chegou aos ouvidos dos pais, logo a encaminharam para um médico e ela sempre insistia em exibir o bilhete, o que irritou seu pai, que logo o arrancou da mão de sua filha com violência e o depositou no bolso. O médico, querendo se mostrar o dono da razão, já foi logo dizendo:

- Este caso é grave. Precisamos de fortes medicações e de um período de internação.

Um dia e muitos calmantes depois do "incidente", apareceu no noticiário televisivo e em todos os jornais impressos da cidade a notícia da morte de uma bela jovem loira vestida de noiva e de seu marido acompanhada da suspeita de que, se a moça tivesse sido socorrida à tempo, ela teria grandes chances de sobreviver. O pai, então, lembrou-se do bilhete que no dia anterior havia tomado da filha e observou que o endereço escrito no bilhete batia com o do crime.

A criança, ainda meio anestesiada pela medicação, inocentemente, disse:
- Eu não disse, papai? Se o senhor tivesse me escutado, a moça teria sobrevivido.

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